Alimentando a memória afetiva
Alimentar-se é uma de nossas necessidades mais básicas, mas também permeia todas as nossas relações e formas de interação. Através do alimento formamos muitas das nossas lembranças afetivas mais importantes.
Há poucos dias visitei a exposição Frida Kahlo na companhia de amigos; após a exposição fomos almoçar e conversávamos sobre as alterações na maneira como nos comportamos em relação à comida. Uma amiga lembrou-se de como a mãe descascava laranjas após o almoço para ela e os irmãos e da disputa da “tampinha” da laranja, já que todos a queriam... Essa estória lembrou-me que nós, em casa, também tínhamos o mesmo hábito, de quando íamos para o interior nas férias e após o almoço o ritual de descascar as laranjas para todos era esperado!
Essa conversa me fez refletir em como a perda desses pequenos gestos pode ter sido determinante para
uma geração que consome pouquíssimas frutas, mas consome muito refrigerante e sucos industrializados. Não é a toa que a indústria lançou os sucos com “gominhos”, lembrando os sucos caseiros, apelando para essa memória afetiva dos alimentos.
Na correria diária, todos querem rapidez e praticidade, mas podemos, mesmo assim, cultivar bons hábitos, com alimentos saudáveis e práticos! Tem coisa mais rápida que comer uma maçã?
A alimentação tem papel importante no desenvolvimento físico, emocional e social da criança É na infância, observando a família, que a criança aprende a relacionar-se com os alimentos, através das sensações, do contexto... Quem não se lembra dos almoços em família na casa dos avós? E os almoços de Natal?
Vale ressaltar que a relação com os alimentos que desenvolvemos durante a infância será levada para a adolescência e vida adulta. Muitas pessoas desenvolvem aversão a alguns alimentos sem nunca tê-los provado, outras ficam dependentes do sabor doce. É no ambiente familiar que novos alimentos e formas de preparação diferenciadas são melhor aceitos e compartilhados desde que as refeições sejam feitas em clima agradável e amoroso, sem a distração de tv’s, celulares, tablets, jogos etc. Ensinar as crianças a saborearem e apreciarem os alimentos, a evitarem o desperdício, são alguns exemplos de atitudes que tornarão nossos pequenos mais saudáveis e mais conscientes.
Ainda temos tempo de formar lembranças agradáveis em relação às nossas refeições em família. Que tal convidar os filhos ou netos para observar o descascar de uma laranja? Transformar a casca numa longa fita pode ser mágico aos olhos de uma criança!
Imagens: Pixaby
Rosana Rossetto é nutricionista - CRN3 37073
e profissional 100 Por Cento Bem Estar. Acesse sua página.
Comentários
Assine o RSS dos comentários